Relance de liberdade

Sábado minha filha fez uma tatuagem.
Uma Rosa dos Ventos no tornozelo. Grande.

- Mãe, eu não fiz um enfeite, isso aqui é uma fonte de força!

Bonito.






(Domingo)
a : mãe.
m : fala. tô aqui. comendo Amanditas...
a : eu to amando a tattoo.
m : eu sei.
a : mto melhor que um iphone.
m : você está amando a força que ela te trás.
Ah...sei não...iPhone não dói no corpo...só dói no bolso!
a : a dor é ruim mas faz parte tbm, tipo é ruim mas é bom.
m : Sim, redenção...sabe, essas coisas, Cristo na cruz, auto-flagelo, masoquismos... :-) Mas também é como fazer 5 horas de ballet por dia.
a : é.
m : Enfim, a posse do próprio corpo é um ato político que liberta.
a : ahahahaha nossa como vc é profunda. filosofia inesperada essa.
m : Sim, de corpo, acho que eu entendo um pouco.
a : põe isso no seu blog: a posse do proprio corpo é um ato político que liberta.
m : Acho que isso tá em Reich...
a : ahaha nossa mã, tu tá ligadona hj hein. tipo "oi, legal sua tattoo", "sim, em reich a posse do próprio corpo é um ato político que liberta"
m : :-) mas é que isso eu acho que posso entender.
Sei lá se o Reich falou disso, desse jeito. Parece que ele pirou no final, acho que bolou uma teoria do orgasmo...acho que ele foi inspiração para Barbarella, sei lá, fico aqui só achando... :-)
a : tu ta ligadona mesmo hein, fala sobre isso no seu blog
m : Vou pensar.
a : escreve brevemente mesmo
m : Vou tentar. Escrever pra mim é difícil.
a : só escreve tres linhas falando disso...
m : certo.
a : é interessante
a : Mas tenho que por uma ilustração. Posso falar da sua tatuagem? Por a foto dela?
Preciso de um gancho, senão meu 'público' vai pensar que tomei um chá e resolvi falar disso assim, do além...
a : pode...fala que vc estava pensando e veio essa ideia na sua cabeca
m : Certo. Farei-o.
a : é legal
m : Isso faz parte da modernidade, como nunca. Dos homens bomba, passando pelos body builders, tatuados, malhados, sarados, aos artistas do corpo, às plásticas e botox da vida...
sem falar no revival midiático dos sado-masoquistas e outras manifestações.
a : "a posse do próprio corpo é um ato político que liberta, mesmo quando se trata de uma tattoo de menina e não da extinção da exploração do trabalho"
m : ahahahahah! Eu nunca falaria isso.
a : vai lá escreve sobre, escreve isso que vc falou. eu vou cobrar. Não esquece de falar da exploração do trabalho.
m : Ah, não entendo de exploração do trabalho...
a : exploração do trabalho é o oposto da posse do proprio corpo, horas, é a venda dele, seu extremo é a prostituta. o paradoxo é que para marx ao mesmo tempo que o trabalho assalariado é a escravidao do corpo, ele acreditava que era tbm a liberdade, pois isso levaria à percepção da liberdade, pois é tão evidente, mas nós duas sabemos que nao aconteceu isso...
m : Sim...não mesmo. Não sabia que o Marx pensava assim...
a : a revolução nao aconteceu, e nos sobraram apenas as tatuagens, enquanto o trabalho assalariado nao foi extinto, entende. a tatuagem retoma essa idéia em ato episódico, um relance de liberdade. olha que bonito.
m : Sim. Interessante. Muito bonito. Isso deveria ser um post no Cabo.
a : seu post pode chamar um relance de liberdade ahahahah
m : Eu faço o meu singelinho e aponto pro Cabo para as pessoas lerem algo mais consistente.
Bonito título. Ok, eu vou fazer o post, mas vou ter que juntar tudo isso aí e citar você, etc.
a : sim....postarei no Cabo.

O chá tava ótimo. O Post no Cabo da Esperança, uma hora dessas sai...
PS: saiu, leia aqui